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Mostrando postagens com o rótulo Livros

A Psicanálise e a Tradição Judaica: Reflexões Pessoais

A Psicanálise e a Tradição Judaica: Reflexões Pessoais Sempre me intrigou a maneira como duas tradições aparentemente tão distantes, a psicanálise e a Torá , dialogam em silêncio . Freud abriu as portas da alma humana para o inconsciente, enquanto a Torá, com seus relatos antigos e sua poesia simbólica, já narrava, há milênios, os dilemas internos do homem. Quando mergulho nesses dois universos, sinto que ambos falam da mesma coisa: da nossa fragilidade, da nossa culpa, do desejo que nos move e do mistério que nos habita . Freud dizia que “o Eu não é senhor em sua própria casa”. Essa frase ecoa em mim quando penso em Adão e Eva, escondendo-se após comer do fruto proibido . O primeiro pecado não é apenas teológico, mas psicanalítico: é o surgimento da vergonha, da castração, da consciência de que há algo que nos escapa . A Torá mostra, em sua primeira narrativa, que não somos plenamente donos de nós mesmos, e a psicanálise traduz isso em termos clínicos . Nietzsche, ao criticar a m...

Resumo do Livro: Regulação Emocional em Psicoterapia - Um Guia para o Terapeuta Cognitivo-Comportamental

Regulação Emocional em Psicoterapia: abrindo caminho entre o sentir e o transformar Imagine entrar numa sala silenciosa e reconhecer, com precisão poética, cada emoção que insiste em falar, desde o sussurro da melancolia até o grito da raiva . Esta introdução é um convite urgente: regulação emocional não é dom, nem técnica fria, mas dança entre entendimento e transformação. Se você é terapeuta ou curioso, este texto traduz o livro Regulação Emocional em Psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental , de Robert L. Leahy, Dennis Tirch e Lisa A. Napolitano, em luz para sua prática e reflexão. O livro em estrutura e propósito Neste guia de 11 capítulos que funcionam como etapas para navegar as emoções humanas, Leahy traça o mapa necessário para o terapeuta cognitivo-comportamental enfrentar não apenas pensamentos, mas emoções temidas ou evitadas por seus pacientes, sem olhar para o diagnóstico mas para o território emocional compartilhado ( SciELO , Amazon Brasil ). O ap...

Além do Princípio do Prazer - O que Freud descobriu sobre a parte mais enigmática da nossa mente

  Além do Princípio do Prazer - O que Freud descobriu sobre a parte mais enigmática da nossa mente Imagine que você vive sua vida acreditando que tudo o que fazemos é para buscar prazer e evitar dor . Parece lógico, certo? Evitar o que nos machuca e buscar o que nos agrada. Essa ideia foi durante muito tempo a base do pensamento de Freud e de grande parte da psicologia. Mas, em 1920, ele lançou um texto que mudou tudo: Além do Princípio do Prazer . Ali, ele abriu uma porta para um território sombrio e fascinante da mente humana. Quando a lógica do prazer não explica tudo Freud começou a notar algo estranho. Pacientes traumatizados não buscavam apenas se afastar da dor. Soldados que voltavam da Primeira Guerra Mundial tinham sonhos que repetiam, noite após noite, o momento exato do trauma. Crianças brincavam de simular o abandono, como se quisessem reviver uma cena dolorosa. Pessoas repetiam relacionamentos e situações que já tinham machucado antes. Nada disso fazia sentido se a...

Contardo Calligaris - Cartas a um Jovem Terapeuta: o ofício da escuta, o tempo e o mistério do encontro

Contardo Calligaris - Cartas a um Jovem Terapeuta : o ofício da escuta, o tempo e o mistério do encontro Você já imaginou uma conversa íntima, sem pressa, entre um mestre e um aprendiz , regada a café, onde o silêncio também fala e o tempo parece esticar? É essa atmosfera que Contardo Calligaris cria em Cartas a um Jovem Terapeuta , livro que vai muito além de um manual técnico. Aqui, a psicanálise aparece como um encontro humano, uma aventura de escuta e compreensão, em que o terapeuta se revela aprendiz de si mesmo e do outro . Neste artigo, convido você a mergulhar nessa obra sensível e provocativa, que não entrega fórmulas, mas oferece um convite à reflexão profunda sobre o fazer clínico e sobre o tempo que escorre nas entrelinhas da escuta . A escrita como um diálogo sentado à mesa Calligaris não fala para uma plateia distante. Ele escreve como quem olha nos olhos do aprendiz, com a cumplicidade de quem sabe que não existem respostas prontas, mas um caminho a ser trilhado com ...

Aprofundando as Articulações de Totem e Tabu de Freud com Jacques Lacan e Claude Lévi-Strauss

1. Lévi-Strauss: O estruturalismo e a troca como fundamento da cultura Claude Lévi-Strauss, antropólogo francês, lê Totem e Tabu como uma tentativa pioneira, ainda que especulativa de pensar a origem das estruturas sociais. Em sua obra "As estruturas elementares do parentesco" (1949) , ele retoma a tese freudiana do tabu do incesto, mas desloca o foco do parricídio mítico para a troca de mulheres como base estruturante da sociedade . Para Lévi-Strauss, o tabu do incesto não deve ser visto apenas como proibição, mas como condição de possibilidade para a aliança entre grupos . Ao impedir a união sexual dentro do mesmo clã, a cultura obriga os indivíduos a buscar parceiros fora do grupo — é o que ele chama de exogamia , e isso funda o tecido social. A troca de mulheres é, portanto, a primeira forma de circulação simbólica: ao ceder a mulher, o grupo se insere em uma rede de alianças e obrigações. Lévi-Strauss reconhece a importância de Freud em apontar para uma estrutura inc...

Totem e Tabu

Em Totem e Tabu , Freud propõe uma investigação ousada ao buscar correspondências entre o funcionamento psíquico de povos considerados “primitivos” e os processos inconscientes observados em pacientes neuróticos da clínica psicanalítica. A partir de quatro ensaios, ele traça um elo entre o mundo da antropologia e a teoria psicanalítica, inaugurando aquilo que podemos considerar o início de uma antropologia psicanalítica. Essa obra não apenas estende os limites da psicanálise, como propõe que os fundamentos da cultura humana estão enraizados nos conflitos e mecanismos inconscientes que atuam na constituição do sujeito . O primeiro tema central é o totemismo . Freud parte do estudo de sociedades tribais australianas para observar que seus membros se organizam em clãs regidos por um “totem”, geralmente um animal ou planta, que atua como símbolo protetor, ancestral comum e força sagrada. Os membros de um mesmo clã não podem ferir, matar ou consumir seu totem. Além disso, há regras rígida...

Reflexões sobre O Som de Muitas Águas, da escritora DoCouto

Reflexões sobre O Som de Muitas Águas, da escritora DoCouto Um convite ao mergulho simbólico no fluxo da existência Ao folhear cada página de O Som de Muitas Águas sinto-me como quem se aproxima de um rio ancestral. Um rio que não carrega apenas água, mas memórias, sonhos e vertigens psíquicas. A autora, DoCouto , entrega-nos uma narrativa que é ao mesmo tempo convite e respiro. Sua escrita é prosa poética que ecoa as vozes invisíveis que vivem em nós. O Livro está disponível na Amazon  e anuncia seu alcance entre leitores que buscam introspecção e renovação. Entre a filosofia e o símbolo do fluxo A leitura se torna rito. Cada fluxo narrativo remete à proposta filosófica do tempo como rio e do sentido como correnteza. O simbolismo da água atravessa metáforas que habitam o inconsciente. No silêncio das correntes, o leitor reconhece fragmentos de si mesmo. Há ecos de Heráclito e Lacan, ambos fascinados pela fluidez e pela linguagem. Aqui, a água é discurso que não se escreve a...

A Interpretação dos Sonhos: quando o inconsciente revela sua poesia noturna

A Interpretação dos Sonhos : quando o inconsciente revela sua poesia noturna Por Ruy de Oliveira Adormecemos e, ao fechar os olhos, iniciamos uma travessia silenciosa. Os sonhos surgem como mapas cifrados, carregando em suas imagens a essência do que fomos, do que desejamos, do que tememos. Em " A Interpretação dos Sonhos ", Freud revela que os sonhos não são meras fantasias do sono, mas manifestações autênticas da alma inconsciente. São obras simbólicas, expressões de desejos recalcados que encontram no palco noturno um modo disfarçado de se dizerem. Este livro , publicado em 1900, não apenas inaugura a psicanálise como método terapêutico, mas também como uma visão revolucionária da mente humana. Nele, Freud constrói um sistema onde o sonho ocupa o lugar de estrada privilegiada que conduz ao inconsciente. Como afirma o autor, o sonho é uma realização disfarçada de um desejo reprimido. Cada imagem onírica, por mais absurda que pareça, esconde em seu núcleo um conteúdo ps...