Melanie Klein

Resumo sobre a vida de Melanie Klein
Melanie Klein nasce em Viena, em 1882, numa família judaica de classe média, atravessada por contrastes afetivos profundos. Era a caçula de quatro filhos, filha de Moriz Reizes, médico austero e intelectualizado, e de Libussa Deutsch, uma mulher marcada por perdas precoces e por um ideal de realização intelectual frustrado. A infância de Melanie foi atravessada por mortes significativas. Uma irmã morreu ainda pequena, um irmão morreu jovem e outro se afastou emocionalmente da família. Esse clima de luto, rivalidade fraterna e ambivalência afetiva não é detalhe biográfico. Ele retorna, transformado, em toda a sua teoria sobre amor, ódio, culpa e reparação. Klein nunca escreveu psicanálise como quem observa de fora. Ela escreveu a partir da ferida.

Casa-se jovem, em 1903, com Arthur Klein, um engenheiro com quem tem três filhos. O casamento não foi feliz. Mudanças constantes, dificuldades financeiras e um crescente sentimento de isolamento emocional a conduzem a um estado depressivo profundo. É nesse contexto que a psicanálise entra em sua vida, primeiro como paciente. Em 1914, Melanie inicia análise com Sándor Ferenczi, em Budapeste. Ferenczi percebe rapidamente algo decisivo. Aquela mulher tinha uma capacidade clínica rara, sobretudo no contato com crianças. Ele a incentiva a estudar psicanálise e, mais do que isso, a ousar onde Freud ainda não tinha ido.

Ferenczi foi o primeiro grande mestre de Klein, oferecendo-lhe autorização simbólica para pensar. Mais tarde, já em Berlim, Melanie se aproxima de Karl Abraham, talvez o mais importante articulador entre Freud e as gerações seguintes. Abraham oferece a Klein rigor conceitual e sustentação teórica. Sua morte prematura, em 1925, foi um golpe devastador para ela. Klein perde não apenas um mentor, mas o último grande apoio dentro do establishment psicanalítico continental.

É após essa perda que Melanie Klein se muda para Londres, em 1926. E aqui a história muda de eixo. Na Inglaterra, ela encontra resistência, desconfiança e, ao mesmo tempo, um terreno fértil para a ruptura. Klein começa a desenvolver sua obra mais radical. Seu foco não é o Édipo clássico, centrado nos quatro ou cinco anos. Klein empurra o inconsciente para trás, muito para trás, até os primeiros meses de vida. Ela afirma, sem pedir licença, que o bebê já vive conflitos psíquicos intensos, que já ama, odeia, fantasia, ataca e repara em nível inconsciente.

Sua principal inovação clínica é a técnica do brincar. Para Klein, o brincar da criança equivale à associação livre do adulto. Não é passatempo, é linguagem do inconsciente. Nos brinquedos, nos desenhos, nas repetições, ela escuta fantasias primitivas de destruição, perseguição e culpa. Com isso, Klein inaugura a psicanálise infantil propriamente dita, não como pedagogia terapêutica, mas como análise em sentido estrito.

Teoricamente, sua obra se organiza em torno de conceitos que hoje são pilares da psicanálise contemporânea. As posições esquizoparanóide e depressiva descrevem modos fundamentais de organização do psiquismo. Na posição esquizoparanóide, predominante nos primeiros meses, o mundo é cindido entre bom e mau, o objeto é persecutório, a angústia é de aniquilação. Na posição depressiva, que emerge quando o bebê começa a integrar o objeto como total, surge a culpa, o luto e o desejo de reparar o dano fantasiado causado ao objeto amado. Aqui nasce algo decisivo. A ética psíquica.

Klein introduz ainda os conceitos de identificação projetiva, objetos parciais, superego precoce e inveja primária. Este último, desenvolvido de forma contundente em Inveja e Gratidão, de 1957, é um dos textos mais incômodos e brilhantes da psicanálise. Para Klein, a inveja não é produto da frustração tardia, mas uma força primitiva que ataca o objeto justamente porque ele é bom. Dói admitir isso, mas ela diz na lata.

Sua obra provoca uma cisão histórica na psicanálise britânica, conhecida como as Controvérsias Freud-Klein, nos anos 1940. De um lado, Anna Freud e os freudianos clássicos. Do outro, Klein e seus seguidores, como Wilfred Bion, Hanna Segal e Herbert Rosenfeld. Não era apenas uma disputa teórica. Era uma diferença radical de visão sobre o humano. Para Klein, o conflito não espera a linguagem. Ele nasce com o corpo, com a pulsão, com a relação primitiva com o objeto.

Melanie Klein morre em Londres, em 1960, deixando uma obra que ainda incomoda, provoca e ilumina. Ela não foi uma autora conciliadora. Foi dura, precisa e, muitas vezes, solitária. Pagou um preço alto por sua ousadia, inclusive no campo pessoal. Teve uma relação extremamente conflituosa com sua filha Melitta, que se tornou psicanalista e uma de suas críticas mais ferozes. Mais uma vez, vida e teoria se entrelaçam.

Ler Melanie Klein é aceitar que o amor não é puro, que o ódio não é acidental e que a saúde psíquica não é ausência de conflito, mas capacidade de reparação. Ela nos ensina que amadurecer é suportar a ambivalência sem destruir o objeto amado. Isso vale para o bebê, para o analisando, para o analista e, sejamos honestos, para todos nós.

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Referências bibliográficas

Klein, M. Amor, culpa e reparação. Rio de Janeiro: Imago.

Klein, M. Inveja e gratidão. Rio de Janeiro: Imago

Klein, M. Psicanálise da criança. São Paulo: Martins Fontes.

Segal, H. Introdução à obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago.

Mitchell, J. Melanie Klein. São Paulo: Loyola.

Laplanche, J.; Pontalis, J.-B. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

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