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Mostrando postagens com o rótulo Casos de Freud

A Dor que se Disfarça de Corpo: Elisabeth von R. e o Nascimento de uma Nova Escuta

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A Dor que se Disfarça de Corpo: Elisabeth von R. e o Nascimento de uma Nova Escuta Há momentos em que a alma encontra um beco sem saída e, silenciosa, empurra o corpo para falar por ela. O corpo aceita esse fardo como um mensageiro obediente. Carrega tensões, contrai músculos, produz dores que não pertencem à fisiologia, mas ao drama íntimo que a consciência se recusa a admitir. Em vez de palavras, surge um peso nas pernas. Em vez de lágrimas, aparecem sintomas. E é justamente nessa fronteira turva entre carne e afeto que o caso de Elisabeth von R. se torna uma chave para compreender o início da Psicanálise. A jovem que procurou Freud sofria de dores tão persistentes que até o simples ato de caminhar parecia uma afronta ao próprio corpo. A medicina de sua época rotulava aquilo como histeria, um diagnóstico que dizia muito pouco sobre o real sofrimento daquela mulher. Freud, ao contrário, percebeu que havia ali uma história ainda não contada. As queixas físicas escondiam uma trama e...

Lucy R

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Lucy R: Quando o Cheiro da Verdade Revela o Primeiro Mapa da Conversão Histérica Lucy R aparece na obra de Freud em 1893 como uma daquelas pacientes que carregam no corpo um segredo que a consciência não suporta admitir . Ela chega queixando-se de náuseas súbitas, desencadeadas por cheiros que despertavam nela um mal-estar inexplicável. Nada de lesões, nada de intoxicações, nada de causas orgânicas. Apenas uma sensação que surgia como um golpe invisível. E foi nesse terreno aparentemente simples que Freud faria uma de suas descobertas mais fundadoras: o mecanismo psíquico da conversão histérica. Ele escuta Lucy com a atenção que já começava a se tornar seu instrumento clínico central. Observa que os episódios não ocorriam ao acaso. Sempre envolviam cheiros específicos. Um aroma de tabaco, uma essência doce, um perfume impregnado em algum lugar da memória. Freud percebe que não era o odor em si que provocava o sofrimento, mas o que ele evocava. O corpo reagia antes que a consciência p...

Katharina

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Katharina: A Montanha, o Sufocamento e o Primeiro Sopro da Psicanálise Aplicada A cena é simples. Freud está em uma estação de montanha em 1893 quando encontra uma jovem aflita. Nada de divã, nada de consultório, nada de rituais médicos. Apenas uma moça que mal consegue respirar, tomada por ataques de pânico que surgem como avalanches internas. O ar rarefeito da montanha combina com a sensação que a domina. Falta fôlego, falta chão, falta nome para aquilo que aperta o peito. A jovem se chama Katharina e se tornaria um dos casos mais emblemáticos da fase inicial da obra freudiana . Freud, atento ao descompasso entre corpo e discurso, começa a escutar. Não impõe diagnósticos, não oferece conselhos. Ele se aproxima devagar, permitindo que a narrativa dela encontre forma. Katharina descreve uma sensação de sufocamento súbito, uma vertigem que a derruba, um medo que não sabe explicar. É uma crise que vem do nada, diz ela. Mas Freud sabe que o nada costuma ter raízes. À medida que conver...

Os Casos Clássicos de Freud

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1. Anna O. (1880–1882) O caso que abriu as portas do mundo para a psicanálise. Bertha Pappenheim, chamada Anna O., tratada por Josef Breuer, desenvolveu sintomas histéricos que flutuavam entre paralisias, afasias e alucinações. O método catártico surgiu da descoberta de que relatar suas fantasias produzia alívio. Embora Freud não tenha conduzido o caso, ele o imortalizou em Estudos sobre a Histeria e o transformou no pilar de sua teoria. Aqui nasce a ideia de que a fala liberta o corpo. Para saber mais sobre o caso de Anna O, clique Aqui !  2. Katharina (1893) Freud encontra uma jovem em uma estação de montanha. Ela se queixa de sufocamento e ataques de pânico. Freud escuta, escava e revela memórias reprimidas envolvendo abuso, mostrando como a neurose se estrutura como defesa. É um caso curto, mas um prenúncio da psicanálise aplicada. Para saber mais sobre o caso de Katharina, clique aqui!   3. Lucy R. (1893) A paciente sentia náuseas impulsionadas por cheiros. Freud per...

Anna O e o Nascimento do Inconsciente: Quando a Palavra Abriu a Porta da Cura

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Anna O e o Nascimento do Inconsciente: Quando a Palavra Abriu a Porta da Cura A história da psicanálise começa com uma jovem mulher sentada diante de Josef Breuer , mergulhada em um torvelinho de sintomas que pareciam desafiar qualquer lógica médica do século XIX. Anna O, nome fictício de Bertha Pappenheim, tornou-se o ponto de partida do que hoje entendemos como clínica da alma. Paralisias que vinham e iam como marés noturnas, afasias que transformavam a língua materna em ruídos estranhos, alucinações que lhe roubavam a fronteira entre vigília e sonho. Ela era, ao mesmo tempo, paciente e mapa, sintoma e chave. O que Breuer encontrou não foi uma doença, mas uma narrativa que se recusava a ser ouvida. Ao permitir que Anna O falasse livremente, sem censura e sem o peso da autoridade médica, algo surpreendente aconteceu. Cada vez que ela narrava uma fantasia reprimida, um episódio traumático ou uma imagem insistente, seus sintomas se dissolviam, como se a palavra retirasse o corpo do s...