Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Psicanálise

A Psicanálise e a Tradição Judaica: Reflexões Pessoais

A Psicanálise e a Tradição Judaica: Reflexões Pessoais Sempre me intrigou a maneira como duas tradições aparentemente tão distantes, a psicanálise e a Torá , dialogam em silêncio . Freud abriu as portas da alma humana para o inconsciente, enquanto a Torá, com seus relatos antigos e sua poesia simbólica, já narrava, há milênios, os dilemas internos do homem. Quando mergulho nesses dois universos, sinto que ambos falam da mesma coisa: da nossa fragilidade, da nossa culpa, do desejo que nos move e do mistério que nos habita . Freud dizia que “o Eu não é senhor em sua própria casa”. Essa frase ecoa em mim quando penso em Adão e Eva, escondendo-se após comer do fruto proibido . O primeiro pecado não é apenas teológico, mas psicanalítico: é o surgimento da vergonha, da castração, da consciência de que há algo que nos escapa . A Torá mostra, em sua primeira narrativa, que não somos plenamente donos de nós mesmos, e a psicanálise traduz isso em termos clínicos . Nietzsche, ao criticar a m...

Chistes: o riso como espelho da alma

O que é o riso, senão um grito da alma travestido de leveza? Freud dizia que no chiste há sempre algo de economia psíquica, um desvio astuto do inconsciente que, por uma brecha, encontra sua forma de expressão . Não é à toa que o chiste, esse pequeno arranjo linguístico que nos arranca gargalhadas ou nos faz sorrir em silêncio, revela mais do que aparenta. No mundo acelerado, em que a fala é muitas vezes esvaziada, os chistes emergem como faíscas de verdade. São lampejos que condensam desejo, crítica e inconsciente em um instante . Este artigo convida o leitor a mergulhar nesse território, onde a psicanálise, a filosofia e a vida cotidiana se encontram no jogo de palavras e no prazer da transgressão. Etimologia e significado A palavra “ chiste ” vem do alemão Witz e do latim cistus , associada à ideia de agudeza, espírito e sagacidade. Em português, ganhou a conotação de graça verbal, jogo de palavras ou trocadilho inteligente. Mas reduzir o chiste a uma piada simplória é comet...

O que é Raiva, Ódio, Mágoa, Ressentimento e Alegria na Visão Psicanalítica

O que é Raiva, Ódio, Mágoa, Ressentimento e Alegria na Visão Psicanalítica Em nosso cotidiano, frequentemente confundimos emoções como raiva, ódio, mágoa, ressentimento e alegria. Embora possam parecer semelhantes, cada uma delas possui características distintas que influenciam profundamente nosso comportamento e bem-estar. A psicanálise, fundada por Sigmund Freud, oferece uma perspectiva única para compreender essas emoções, explorando suas origens, manifestações e impactos na psique humana. Neste artigo, vamos analisar cada uma dessas emoções sob a ótica psicanalítica, buscando entender suas nuances e implicações. Raiva: A Primeira Reação à Frustração A raiva é uma emoção primária, geralmente desencadeada por frustrações ou ameaças percebidas. Freud a associava a uma resposta instintiva do ego frente a situações que desafiam seu equilíbrio. Segundo ele, a raiva pode ser uma defesa contra sentimentos de impotência ou humilhação . Em sua obra "O Mal-Estar na Civilização",...

Esclerose Múltipla na Perspectiva Psicanalítica

Esclerose Múltipla na Perspectiva Psicanalítica Introdução: Quando o corpo fala aquilo que a alma silencia A esclerose múltipla é uma condição neurológica complexa, marcada pelo ataque do sistema imunológico contra a mielina, que reveste os neurônios e garante a comunicação eficiente no sistema nervoso central . Mas, para além do diagnóstico médico e dos termos técnicos, é fundamental compreender o impacto existencial e subjetivo dessa doença. Na perspectiva psicanalítica, a esclerose múltipla não se reduz a um conjunto de lesões visíveis em exames de ressonância magnética. Ela é também uma narrativa de vida, uma experiência atravessada por afetos, símbolos, medos e reconstruções de identidade. O corpo, quando adoece, muitas vezes se torna palco de uma linguagem inconsciente, manifestando aquilo que não pôde ser dito pelas palavras . O corpo como território do inconsciente Freud, já no início de suas pesquisas, apontava que o corpo é mais do que matéria biológica, ele é cenário onde o ...

Atravessar o fantasma na psicanálise lacaniana: o encontro com a falta e a liberdade do desejo

Atravessar o fantasma na psicanálise lacaniana: o encontro com a falta e a liberdade do desejo Você já parou para pensar que muito do que chamamos de vida é guiado por um roteiro invisível? Lacan chamou esse roteiro de fantasma. É uma cena interna, quase um teatro silencioso, que dá sentido ao nosso desejo e ao nosso sofrimento. Mas o que acontece quando percebemos que esse teatro não é a vida real, e que somos mais do que o personagem que atuamos? É aqui que entra um dos conceitos mais provocativos da psicanálise lacaniana: atravessar o fantasma. Essa é a experiência em que o sujeito se separa da ilusão que sustenta suas repetições e aceita a falta como algo constitutivo, não para eliminá-la, mas para lidar com ela de forma criativa e responsável. O que é o fantasma para Lacan Na teoria lacaniana, o fantasma é a estrutura imaginária que organiza o desejo . Ele é formado pelas marcas do inconsciente , pelas experiências com o outro e pelas perdas iniciais que moldam nossa subjetiv...

Resumo do Livro: Regulação Emocional em Psicoterapia - Um Guia para o Terapeuta Cognitivo-Comportamental

Regulação Emocional em Psicoterapia: abrindo caminho entre o sentir e o transformar Imagine entrar numa sala silenciosa e reconhecer, com precisão poética, cada emoção que insiste em falar, desde o sussurro da melancolia até o grito da raiva . Esta introdução é um convite urgente: regulação emocional não é dom, nem técnica fria, mas dança entre entendimento e transformação. Se você é terapeuta ou curioso, este texto traduz o livro Regulação Emocional em Psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental , de Robert L. Leahy, Dennis Tirch e Lisa A. Napolitano, em luz para sua prática e reflexão. O livro em estrutura e propósito Neste guia de 11 capítulos que funcionam como etapas para navegar as emoções humanas, Leahy traça o mapa necessário para o terapeuta cognitivo-comportamental enfrentar não apenas pensamentos, mas emoções temidas ou evitadas por seus pacientes, sem olhar para o diagnóstico mas para o território emocional compartilhado ( SciELO , Amazon Brasil ). O ap...

Escuta Flutuante

Escuta Flutuante na Psicanálise: Você Realmente Está Ouvindo o Inconsciente? Quantas vezes acreditamos ouvir alguém, mas estamos presos aos nossos próprios filtros e interpretações? Na psicanálise, ouvir é um ato profundo, delicado e estratégico . A escuta flutuante desafia o analista a permanecer aberto, sensível e atento a tudo que emerge da mente do paciente, sem se fixar em nada . Mas essa técnica não é apenas para terapeutas: ela nos convida a refletir sobre como percebemos o mundo, os outros e a nós mesmos. Você consegue ouvir sem julgar, sem antecipar respostas, sem se apegar ao que deseja ouvir? Se a resposta é incerta, este texto vai te provocar a repensar a própria atenção e percepção. O Que é Escuta Flutuante e Por Que Ela Importa Freud introduziu a escuta flutuante como uma técnica para acessar o inconsciente . Diferente da escuta direcionada, que busca respostas específicas, a escuta flutuante permite que o fluxo espontâneo de pensamentos, emoções e silêncios do paci...

Todo aquele que se destaca será atacado: o que a psicanálise fala sobre?

Prefiro ser um eterno Mestre Aprendiz do que um Aprendiz Mestre! Todo aquele que se destaca será atacado: o que a psicanálise fala sobre? Introdução: o preço de brilhar Vivemos em uma sociedade onde destacar-se é ao mesmo tempo uma bênção e uma condenação . Aquele que ousa ultrapassar a mediocridade, que se expõe, cria, lidera ou simplesmente não se conforma, inevitavelmente desperta tanto admiração quanto hostilidade . É como se a luz do indivíduo que se destaca provocasse sombras nos outros, revelando inseguranças, ressentimentos e desejos recalcados . Mas por que o sucesso, a originalidade ou a diferença geram tanto ataque? A psicanálise oferece respostas profundas para esse fenômeno humano, que não é novo, mas se repete em diferentes épocas, culturas e contextos sociais . Neste artigo, vamos mergulhar no olhar psicanalítico sobre a inveja, o narcisismo ferido, o recalque coletivo e o funcionamento inconsciente que leva as pessoas a atacar justamente aquele que traz algo de nov...

Diagnóstico Psicanalítico: Como Nancy McWilliams Revela a Complexidade da Mente Humana

Diagnóstico Psicanalítico: Como Nancy McWilliams Revela a Complexidade da Mente Humana A mente humana é um território fascinante e, muitas vezes, inexplorado. Nancy McWilliams, em Diagnóstico Psicanalista , nos oferece um mapa detalhado desse território, mostrando que o diagnóstico psicanalítico vai muito além de simples rótulos clínicos . Ele é uma chave que abre portas para entender padrões emocionais, conflitos internos e os mecanismos de defesa que estruturam a personalidade . Se você busca compreender a psique humana de forma profunda, prepare-se: este é um convite para pensar, refletir e talvez questionar suas próprias percepções sobre você e os outros. O Que é Diagnóstico Psicanalítico e Por Que Ele Importa Ao contrário dos manuais psiquiátricos tradicionais, McWilliams propõe um diagnóstico que integra história pessoal, dinâmica emocional e funcionamento relacional . O diagnóstico psicanalítico não é apenas descritivo; ele é interpretativo. Ele permite ao terapeuta compree...

Os Quatro Temperamentos e a Antiga Arte de Ler a Alma Humana

Os Quatro Temperamentos e a Antiga Arte de Ler a Alma Humana A humanidade sempre buscou compreender o enigma que pulsa por trás dos olhos de cada pessoa . Antes mesmo de a psicanálise nascer, já havia tentativas de classificar o que hoje chamamos de personalidade . Entre esses modelos, poucos sobreviveram tão longamente quanto a teoria dos quatro temperamentos . Mais do que uma curiosidade histórica, trata-se de uma lente que atravessou milênios, unindo medicina, filosofia e psicologia . Sua origem remonta à Grécia Antiga, quando Hipócrates, considerado o pai da medicina, lançou as bases dessa classificação . Séculos depois, Galeno refinou e ampliou essa teoria, estabelecendo uma visão de mundo onde corpo e alma dançavam ao mesmo ritmo dos humores que circulavam em nossas veias. Essa antiga concepção não apenas moldou a medicina ocidental por mais de mil anos, mas também influenciou profundamente a forma como entendemos a natureza humana. Ainda que a ciência moderna já tenha abandon...