1. Lévi-Strauss: O estruturalismo e a troca como fundamento da cultura
Claude Lévi-Strauss, antropólogo francês, lê Totem e Tabu como uma tentativa pioneira, ainda que especulativa de pensar a origem das estruturas sociais. Em sua obra "As estruturas elementares do parentesco" (1949), ele retoma a tese freudiana do tabu do incesto, mas desloca o foco do parricídio mítico para a troca de mulheres como base estruturante da sociedade.
Para Lévi-Strauss, o tabu do incesto não deve ser visto apenas como proibição, mas como condição de possibilidade para a aliança entre grupos. Ao impedir a união sexual dentro do mesmo clã, a cultura obriga os indivíduos a buscar parceiros fora do grupo — é o que ele chama de exogamia, e isso funda o tecido social. A troca de mulheres é, portanto, a primeira forma de circulação simbólica: ao ceder a mulher, o grupo se insere em uma rede de alianças e obrigações.
Lévi-Strauss reconhece a importância de Freud em apontar para uma estrutura inconsciente nas proibições culturais, mas propõe que essa estrutura seja lida como sistema de diferenças simbólicas (a linguagem, os signos, os nomes) e não como expressão de desejos recalcados ou eventos míticos originários. Ele substitui a narrativa mítica (o pai morto) por uma estrutura lógica e formal de regras inconscientes que regulam o parentesco.
Contudo, a convergência entre ambos aparece na ideia de que o ser humano só se constitui plenamente como tal quando submetido à lei simbólica, seja ela nome do pai (Freud), seja ela sistema de trocas (Lévi-Strauss). Ambos consideram que é a proibição que funda a cultura.
2. Jacques Lacan: O Nome-do-Pai e a estrutura edípica
Jacques Lacan, por sua vez, retoma profundamente Totem e Tabu para formalizar sua teoria do Complexo de Édipo como estrutura simbólica. Ele reinterpreta o mito freudiano não como uma cena histórica, mas como uma fábula necessária para articular a entrada do sujeito na linguagem e na lei.
Para Lacan, a figura do pai em Freud é condensada na função simbólica do Nome-do-Pai, que representa a interdição do incesto e a instauração da ordem significante. O assassinato do pai primevo, em Lacan, é traduzido como o momento em que o sujeito é confrontado com a castração simbólica ou seja, com o fato de que não pode ser tudo para o Outro (no caso, para a mãe), e que há uma lei que o limita.
Esse corte funda o sujeito do inconsciente, e essa operação só é possível porque há uma função paterna simbólica que introduz a Lei. Lacan diz que a função do Nome-do-Pai é inscrever o desejo no campo do Outro, ou seja, transformá-lo em desejo desejável, regulado, e não pulsional e incestuoso. A metáfora paterna (um dos pontos centrais da teoria lacaniana) depende daquilo que Freud construiu como o recalque originário, vinculado ao crime mítico de Totem e Tabu.
Lacan também observa a importância da ambivalência afetiva descrita por Freud o amor e o ódio simultâneos pelo pai e a coloca como característica fundamental das relações transferenciais e da estrutura psíquica.
3. Reflexões e articulações para o teu estudo
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A leitura de Freud por Lévi-Strauss e Lacan revela dois modos diferentes de entender a origem da cultura: enquanto o primeiro parte de uma lógica simbólica e de sistemas de troca, o segundo aposta numa estrutura psíquica do desejo atravessada pela linguagem e pela lei.
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Ambos, no entanto, reconhecem que a interdição do incesto é o núcleo duro da civilização. É a lei negativa que possibilita o laço social. Esse ponto está claro em Totem e Tabu.
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O que Lévi-Strauss formaliza como sistema de parentesco, Lacan converte em estrutura do desejo regulada pelo significante.
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Em ambos, a figura do pai (seja mítica, simbólica ou institucional) é fundamental: não se trata do pai empírico, mas da função simbólica que instaura a diferença, o limite e a cultura.
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Uma possível crítica contemporânea, inspirada em pensadores como Derrida ou Judith Butler, aponta que a universalização do modelo edípico ou do tabu do incesto pode desconsiderar a pluralidade das formas familiares e culturais. Mas mesmo essas críticas partem do legado freudiano.
Explicação clara e didática sobre a etimologia das palavras totem e tabu, com foco no que é importante para quem estuda Totem e Tabu, de Freud.
TOTEM
Origem da palavra:
A palavra “totem” vem da língua dos povos indígenas da América do Norte, especificamente da língua ojíbua (ou algonquina). Na língua original, a palavra era algo como "odoodem", que significava “o seu clã” ou “sua linhagem”.
Como chegou ao Ocidente:
O termo entrou nas línguas europeias no século XVIII, através dos relatos de missionários e antropólogos que estudavam as culturas indígenas norte-americanas. Em 1791, o inglês John Long usou a forma "totem" em sua obra, e o termo se difundiu entre os estudiosos da antropologia e, depois, entre psicanalistas como Freud.
O que Totem significa:
No sentido original, o totem é geralmente um animal ou planta simbólica que representa um grupo familiar, um clã. Esse ser é considerado protetor, ancestral sagrado e guia espiritual daquele grupo. Os membros do clã acreditam descender do totem e têm proibições relacionadas a ele por exemplo, não podiam comê-lo nem matá-lo.
Para Freud:
Freud vê o totem como uma figura simbólica do pai primitivo, uma forma de representar coletivamente a autoridade, a proteção e a interdição. O totem, para ele, é um substituto do pai morto e funciona como um símbolo que ancora a lei do grupo.
TABU
Origem da palavra:
A palavra “tabu” vem do idioma tonga, falado pelos povos da Polinésia (ilhas como Taiti e Tonga). A palavra original é “tapu”, que significa literalmente:
Proibido,
Sagrado,
Intocável ou
Consagrado ao divino.
Como chegou ao Ocidente:
O navegador britânico James Cook, em suas viagens pelo Pacífico Sul no século XVIII, ouviu essa palavra usada pelos habitantes das ilhas e a registrou como “taboo” em inglês. Desde então, passou a ser usada na Europa para designar proibições sagradas e rituais em culturas indígenas.
O que Tabu significa:
Na origem, um tabu é algo que está fora do alcance do contato humano por estar carregado de poder espiritual. Ele pode ser tanto um perigo quanto uma proteção. Por isso, tocar, comer, usar ou se relacionar com aquilo que é tabu pode ser considerado ofensivo ou perigoso.
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