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Mário Sérgio Cortella - Não Nascemos Prontos

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"A construção do "eu" é, portanto, uma eterna negociação entre o que somos e o que o inconsciente nos impulsiona a ser ."  Ruy de Oliveira  ∴ A jornada da vida é um rio que corre, e a cada passo, a cada curva, percebemos que não somos ilhas estáticas, mas sim um constante devir. Não Nascemos Prontos , essa é a tese de Cortella que ecoa na alma de quem busca compreender a própria existência. Mergulhar nesse conceito é como abrir uma janela para o abismo de nós mesmos, um abismo que, ao invés de assustar, convida à construção . O fio condutor da obra de Cortella tece uma crítica sutil à ilusão de uma vida pré-fabricada. Nascemos com um potencial latente, mas a casca que nos envolve é um vazio a ser preenchido, uma argila a ser moldada . Essa é a essência do pensamento corteliano, que se alinha com a neurociência, a filosofia e a psicanálise, criando uma tapeçaria rica e complexa. O Vazio da Essência e a Argila da Existência: Diálogos entre Neurociência e Filosofia A...

Durkheim, Psicanálise e Clínica: pensar o suicídio além do sujeito isolado

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Durkheim, Psicanálise e Clínica: pensar o suicídio além do sujeito isolado Quando trazemos Durkheim para a clínica psicanalítica, estamos dizendo que o sujeito não é ilha. Seu inconsciente guarda fantasmas pessoais, sim, mas também abismos sociais; suas angústias ecoam rupturas coletivas, desregulação normativa, enfraquecimento de laços. A clínica se enriquece se admite que o sintoma suicida pode ter raízes que se estendem além do steering interno. Caso clínico ilustrativo 1: o isolamento como fermento de egoísmo Descrição do caso João, 35 anos, terapeuta ocupacional, vive sozinho numa metrópole. Fez terapia por depressão. Declara sentir-se “invisível”, sem pertencimento. É divorciado, mantém contato esporádico com família. Nas redes, interage pouco; seu círculo social real é escasso. Análise à luz de Durkheim + psicanálise Há aqui um perfil de suicídio egoísta: baixa integração social, sentimento de desamparo, perda de sentido de pertencimento. Do ponto de vista psicanalíti...

Sintomas e Inibições

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Sintomas e Inibições Introdução Em psicanálise, sintomas e inibições são dois modos distintos que o inconsciente encontra para lidar com conflitos internos. Sintoma manifesta, simboliza algo recalcado; inibição interrompe, bloqueia, impede que ações ou funções psíquicas se desenrolem. Ambos falam de desejo, de eu, de angústia, e têm implicações clínicas profundas. Hoje revisito esses conceitos, suas diferenças, cruzamentos, e como a neuro-psicanálise os ilumina. O que são sintomas? Sintoma é aquilo que se forma como mensagem do inconsciente. Freud pensou o sintoma como expressão de um conflito psíquico que não pôde ser resolvido, recalcado, mas que retorna deformado — como sonho, ato falho, compulsão, conversão. Ele não é escolha consciente; é resultado de forças psíquicas em luta: instinto, desejo, supereu, memória primária. Sintoma é uma construção simbólica: algo do desejo quer se dizer, mas só pode aparecer atravessado por deformações. Sintomas podem ser recompostos, interpre...

Pulsão de morte

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Pulsão de morte Introdução A pulsão de morte é uma das ideias mais inquietantes da psicanálise. Ela sugere que no interior do sujeito existe não apenas desejo de viver, de criar, de amar, mas também uma tendência oposta, silenciosa, em direção à destruição, ao retorno ao inorgânico, a dissolver limites . Não é desejar morrer literalmente, mas uma força psíquica que tensiona o Eros - a pulsão de vida - e abre campo para angústia, repetição, sofrimento. Este artigo revisita o conceito, sua gênese, desdobramentos clínicos, e como neuro-psicanálise dialoga com essa noção que mexe com o fundo do humano. Gênese do conceito em Freud e suas fontes Sigmund Freud apresentou formalmente a ideia da pulsão de morte em Além do Princípio do Prazer (1920). Nesse texto ele nota fenômenos - como os protistas que retornam a um estado de “inatividade”, a compulsão à repetição de eventos dolorosos, traumas que se repetem - que não se explicam pelo prazer, ou pela busca de gratificação, mas por algo q...