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Mostrando postagens de dezembro, 2025

De que forma o sujeito lida com o seu desejo

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De que forma o sujeito lida com o seu desejo "A psicanálise não oferece respostas prontas porque o desejo não suporta manuais. Ela oferece tempo, escuta e responsabilidade subjetiva." O desejo é uma palavra simples, curta, quase doméstica. Mas quando ela entra no consultório, muda de tom. O desejo não chega educado, não pede licença, não segue roteiro. Ele aparece torto, atrasado, disfarçado de sintoma, ansiedade, tédio, compulsão, depressão ou aquela frase clássica que todo clínico já ouviu: “eu não sei o que eu quero”. Essa frase, aliás, já diz muita coisa. O sujeito moderno não sofre por falta de desejo. Sofre porque não sabe o que fazer com ele. Freud foi direto desde o início. O desejo nasce do conflito. Não existe desejo puro, transparente, consciente. O desejo é atravessado pela falta, pelo recalque, pela interdição. Ele não aponta para um objeto claro, mas para algo perdido, algo que nunca foi totalmente possuído. Por isso o sujeito vive tentando tapar buracos com ob...

Melanie Klein

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Melanie Klein nasce em Viena, em 1882, numa família judaica de classe média, atravessada por contrastes afetivos profundos. Era a caçula de quatro filhos, filha de Moriz Reizes, médico austero e intelectualizado, e de Libussa Deutsch, uma mulher marcada por perdas precoces e por um ideal de realização intelectual frustrado. A infância de Melanie foi atravessada por mortes significativas. Uma irmã morreu ainda pequena, um irmão morreu jovem e outro se afastou emocionalmente da família. Esse clima de luto, rivalidade fraterna e ambivalência afetiva não é detalhe biográfico. Ele retorna, transformado, em toda a sua teoria sobre amor, ódio, culpa e reparação. Klein nunca escreveu psicanálise como quem observa de fora. Ela escreveu a partir da ferida . Casa-se jovem, em 1903, com Arthur Klein, um engenheiro com quem tem três filhos. O casamento não foi feliz. Mudanças constantes, dificuldades financeiras e um crescente sentimento de isolamento emocional a conduzem a um estado depressivo pro...

Melanie Klein e as Crianças - O conflito não espera a linguagem

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Melanie Klein não escolheu as crianças por delicadeza, vocação maternal ou idealismo pedagógico. Ela foi empurrada até elas pela própria dor . Antes de ser teórica, Klein foi uma mulher atravessada por perdas, depressão e um sentimento persistente de desamparo interno. É desse ponto, nada romântico, que nasce sua pergunta fundamental. O que acontece tão cedo na vida que nos marca para sempre? Freud havia aberto a porta do inconsciente, mas ainda mantinha o bebê num quase silêncio teórico. Klein não aceitou esse atraso. Algo nela sabia que o conflito não espera a linguagem. O primeiro empurrão veio da própria análise. Ao se deitar no divã de Sándor Ferenczi, Melanie Klein encontra um analista que ousava escutar para além do protocolo. Ferenczi já desconfiava de que o sofrimento psíquico se organizava muito antes da infância tardia. Ele percebeu em Klein uma intuição clínica rara e a incentivou a trabalhar com crianças, algo ainda visto com enorme desconfiança no início do século XX....

Pensadores Vivos da Alma: Psicanalistas, Psicólogos e Psiquiatras que Ainda Pensam o Humano

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Pensadores Vivos da Alma: Psicanalistas, Psicólogos e Psiquiatras que Ainda Pensam o Humano Existe uma fantasia perigosa circulando por aí: a de que a Psicanálise morreu, foi superada ou dissolvida em técnicas rápidas e protocolos de cinco sessões. Basta sentar diante de um sujeito em sofrimento real para essa ilusão cair por terra. O inconsciente segue operando, o conflito insiste, o desejo tropeça, e a angústia continua falando quando ninguém quer ouvir . O que mudou não foi o humano, foi a forma de escutá-lo. E alguns pensadores contemporâneos seguem fazendo isso com coragem, rigor e profundidade. No campo da psicanálise moderna, Mark Solms ocupa um lugar central. Ele recoloca Freud no século XXI ao mostrar que o afeto é o motor da mente. Antes de pensar, o cérebro sente. A consciência nasce do corpo, não o contrário. Solms não abandona a psicanálise para dialogar com a neurociência . Ele faz o movimento inverso, leva a neurociência de volta ao inconsciente. Na clínica, isso mud...

Estóicos e existencialistas modernos: entre o controle do que depende de nós e o peso de existir

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Estóicos e existencialistas modernos: entre o controle do que depende de nós e o peso de existir Há momentos no consultório em que a filosofia chega antes do diagnóstico. O sujeito fala de angústia , de impotência, de uma sensação difusa de estar fora do próprio eixo, e aquilo não é apenas um sintoma individual. É um mal-estar que atravessa épocas. Nessas horas, duas tradições filosóficas retornam com força quase clínica: o estoicismo antigo e o existencialismo moderno . Distantes no tempo, mas curiosamente próximos naquilo que realmente importa: como sustentar a vida quando ela não obedece aos nossos desejos. O estoicismo nasce na Grécia, por volta do século III antes de Cristo, com Zenão de Cítio , e se desenvolve em um mundo instável, marcado por guerras, crises políticas e perdas de referências . Não é um detalhe histórico irrelevante. O estoicismo não surge em tempos confortáveis. Ele nasce quando a ideia de controle desmorona. Seu conceito central é simples e duro: há coisas que...

Hipocondria: O Segredo Sombrio por Trás da Obsessão com a Saúde que a Psicanálise revela

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Hipocondria: O Segredo Sombrio por Trás da Obsessão com a Saúde que a Psicanálise revela A experiência humana é marcada por uma incessante busca por segurança , um imperativo biológico e psíquico que se manifesta de inúmeras formas. Uma das mais intrigantes e, por vezes, angustiantes, é a preocupação excessiva e persistente com a própria saúde. Não se trata de um cuidado prudente ou de uma atenção razoável aos sinais do corpo, mas de um estado de alerta constante, uma vigilância patológica onde cada sinal fisiológico mínimo é decodificado como a evidência irrefutável de uma doença grave, ainda não diagnosticada. Essa sombra persistente sobre o bem-estar, que sequestra a tranquilidade mental e afeta a qualidade de vida, tem um nome clássico e uma profundidade que a Neuropsicanálise e a Filosofia ajudam a desvelar: a hipocondria . O que se esconde por trás desse medo? É apenas uma falha na interpretação de dados, um erro cognitivo do cérebro, ou é um sintoma sofisticado que aponta par...