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O desejo e o falso self em Winnicott

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  O desejo e o falso self em Winnicott Poucas ideias em psicanálise são tão atuais quanto a noção de falso self formulada por Donald Winnicott. Basta abrir a porta do consultório para perceber que grande parte do sofrimento contemporâneo não nasce de conflitos explosivos, mas de um silenciamento lento do desejo. O sujeito chega funcional, educado, produtivo, aparentemente ajustado, mas com uma sensação persistente de vazio . Vive, trabalha, se relaciona, mas não se sente vivo. Quando fala, algo soa correto demais. Quando deseja, hesita. Quando escolhe, parece sempre escolher para alguém. Winnicott foi preciso ao mostrar que o falso self não é uma patologia em si. Ele nasce como uma solução. Diante de um ambiente que falha em acolher os gestos espontâneos do bebê, a criança aprende cedo demais a se adaptar . Aprende a responder ao desejo do outro antes mesmo de reconhecer o próprio. Esse movimento garante sobrevivência psíquica, mas cobra um preço alto: o afastamento progressivo do ...

O sistema SEEKING e a vitalidade psíquica: Jaak Panksepp e o desejo que move a vida

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  O sistema SEEKING e a vitalidade psíquica: Jaak Panksepp e o desejo que move a vida Há um tipo de sofrimento que chega ao consultório sem drama, sem grandes sintomas escandalosos, mas com uma força devastadora. O sujeito diz que está tudo mais ou menos bem, trabalha, se relaciona, cumpre suas funções, mas sente que algo perdeu o brilho. A vida segue, porém sem curiosidade, sem impulso, sem direção. Não é tristeza clássica, não é angústia aguda. É uma espécie de apagamento da vitalidade. Foi exatamente esse fenômeno que Jaak Panksepp ajudou a nomear quando descreveu o sistema SEEKING como o motor básico da vida psíquica. Panksepp foi um neurocientista, psicólogo e pesquisador estoniano-americano, nascido em 1943 e falecido em 2017. Ele é considerado o fundador da neurociência afetiva . Seu trabalho foi revolucionário porque ele teve a ousadia de afirmar algo que muitos evitavam dizer em voz alta: o cérebro é organizado, antes de tudo, por sistemas emocionais primários. Não é a r...

O Tirano Sutil: Por Que a Vontade de Controlar o Outro é a Nossa Própria Prisão na Psicanálise

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O Tirano Sutil: Por Que a Vontade de Controlar o Outro é a Nossa Própria Prisão na Psicanálise A condição humana carrega em sua essência um paradoxo devastador: a incessante busca por liberdade pessoal é, frequentemente, acompanhada por um impulso subjacente de cercear a liberdade do outro, de moldar a realidade externa aos contornos de um desejo íntimo e intransferível. Esta inclinação, muitas vezes velada sob o manto de "amor", "cuidado" ou "melhores intenções", revela-se, sob o olhar da Psicanálise e da Filosofia , como uma das maiores fontes de sofrimento nas relações e no próprio psiquismo. O desejo de que o outro "seja do seu jeito" não é apenas uma exigência relacional, mas um sintoma profundo de uma falha na aceitação do Outro como um sujeito autônomo, irredutível à nossa imagem e semelhança. Esta é a sutil tirania: a exigência de que o mundo externo, em particular as figuras de afeto e proximidade, opere como um espelho de nossos anse...