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Mostrando postagens de setembro, 2025

Compulsão: quando a repetição domina o sujeito

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Compulsão: quando a repetição domina o sujeito Introdução A compulsão é um dos fenômenos mais intrigantes da mente humana, pois revela a tensão entre liberdade e aprisionamento . Ela não se reduz a um simples hábito ou a uma mania, mas carrega a força de um destino que se repete, mesmo contra a vontade consciente do sujeito. Na psicanálise, esse movimento recebe destaque fundamental, especialmente na formulação freudiana da compulsão à repetição . A filosofia, por sua vez, nos lembra que a compulsão coloca em xeque nossa própria ideia de liberdade . Etimologia da palavra compulsão A palavra “compulsão” vem do latim compulsio , derivada do verbo compellere , que significa “forçar, obrigar, pressionar”. Desde sua raiz, o termo já indica algo que empurra o sujeito a agir contra sua escolha plena, como se estivesse coagido por uma força interna. Essa etimologia ilustra bem o que ocorre no campo clínico: não se trata de escolha, mas de submissão a uma necessidade inconsciente que se i...

Edmund Husserl: vida, pensamento e legado filosófico da fenomenologia

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Edmund Husserl: vida, pensamento e legado filosófico da fenomenologia Introdução: o filósofo que ousou repensar a consciência No vasto panorama da filosofia do século XX, um nome se destaca pela ousadia de propor uma nova forma de olhar para o mundo e para nós mesmos: Edmund Husserl , o criador da fenomenologia . Enquanto muitos filósofos buscavam sistemas fechados ou explicações externas, Husserl voltou-se para o mais íntimo da experiência humana: a consciência. Sua obra transformou radicalmente a filosofia e exerceu impacto profundo sobre a psicanálise, a psicologia, a sociologia e até a neurociência contemporânea . Mais do que um pensador acadêmico, Husserl foi um explorador da vida interior, alguém que acreditava que compreender a experiência vivida era o caminho para recuperar o sentido da existência em meio à crise da modernidade. Mas quem foi esse homem que ousou colocar a subjetividade no centro da filosofia? A vida de Husserl: origens e formação intelectual Edmund Husser...

Pequenos erros, grandes castigos

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Pequenos erros, grandes castigos Introdução Às vezes um deslize de fala, uma promessa esquecida, um gesto impensado algo pequeno pode desencadear consequências muito maiores do que o erro em si justificaria. O peso da culpa, o autojulgamento, o olhar do outro amplificando o que parecia pequeno. No dia a dia, esses “microerros” acumulados podem gerar sofrimento desproporcional. Quero explorar como isso acontece psicanaliticamente, o que a neuropsicanálise ajuda a entender, e como lidar para que os pequenos erros não se transformem em grandes punições internas . O erro segundo a psicanálise Para Freud, o erro (atos falhos, lapsos) é mais que descuido: ele é manifestação do inconsciente, revela desejos que não ousamos dizer, conteúdos reprimidos . O “erro” se torna pista: há algo ali que insiste em se mostrar através do sintoma ou da fala equivocada. Esses microerros despertam vergonha, culpa, angústia, porque abrem uma brecha entre o ideal do eu (o que acreditamos que deveríamos se...

Pirro de Élis: o filósofo cético e a arte de suspender o juízo

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Pirro de Élis: o filósofo cético e a arte de suspender o juízo Em português, o nome do filósofo se pronuncia assim: - Pírro de Élis Pirro: o i é fechado, com a tonicidade na primeira sílaba → PÍ-rro (o “rr” forte, como em “carro”). Élis: o acento indica a tonicidade na primeira sílaba → É-lis . Portanto, lê-se naturalmente como Pírro de Élis. Introdução Em uma época marcada por dogmas e certezas filosóficas, surge uma figura que ousou inverter o jogo: Pirro de Élis , o filósofo grego que fundou o ceticismo pirrônico. Em vez de buscar verdades imutáveis, como fizeram Platão ou Aristóteles, Pirro propôs algo mais desconcertante e provocativo: a suspensão do juízo. O que aconteceria se parássemos de afirmar ou negar e simplesmente deixássemos a realidade se apresentar em silêncio? Essa postura, chamada de epoché , não apenas desafiou a filosofia de seu tempo, mas continua ecoando na cultura contemporânea como uma alternativa à pressa das opiniões e julgamentos. A vida e o c...

Pirro - a Psicanálise e o Mal-Estar Contemporâneo

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Pirro, a psicanálise e o mal-estar contemporâneo Em português, o nome do filósofo se pronuncia assim: - Pírro de Élis Pirro: o i é fechado, com a tonicidade na primeira sílaba →  PÍ-rro  (o “rr” forte, como em “carro”). Élis: o acento indica a tonicidade na primeira sílaba →  É-lis . Portanto, lê-se naturalmente como Pírro de Élis. A psicanálise moderna, especialmente em Freud e Lacan, reconhece a precariedade da verdade absoluta . O inconsciente fala, mas nunca se deixa capturar por inteiro . Assim, a epoché pode ser entendida como uma postura clínica: ouvir sem se precipitar, acolher sem sufocar com diagnósticos apressados . Em uma época de diagnósticos rápidos, de manuais psiquiátricos que tentam classificar cada comportamento, Pirro soa como um lembrete incômodo de que viver com a dúvida pode ser mais humano do que viver de certezas frágeis . Provocação ao leitor: precisamos mesmo de tantas certezas? O pensamento de Pirro nos provoca porque ele questiona nosso ape...

A Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers: como funciona e qual sua proposta transformadora

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A Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers: como funciona e qual sua proposta transformadora Introdução: o humano como centro da experiência Quando se fala em psicologia, a maioria das pessoas pensa em diagnósticos, testes, categorias ou no famoso divã. Mas existe uma corrente que ousou inverter essa lógica e colocar no centro da prática não o sintoma, não a doença, mas o próprio sujeito em sua inteireza . Essa é a proposta de Carl Rogers, psicólogo norte-americano que revolucionou a psicoterapia ao criar a Abordagem Centrada na Pessoa , também chamada de Terapia Centrada no Cliente . Diferente das escolas mais diretivas ou interpretativas, Rogers acreditava que cada indivíduo carrega dentro de si a capacidade de transformação, desde que encontre um espaço seguro, autêntico e empático para florescer . A pergunta que surge é simples e ao mesmo tempo radical: e se o terapeuta não fosse aquele que “sabe mais”, mas alguém que oferece uma relação genuína para que o outro descubra por...

Epoché: o silêncio do julgamento e o despertar da consciência

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Epoché: o silêncio do julgamento e o despertar da consciência Introdução Você já pensou no que significa suspender o juízo? Não opinar, não concluir, não reduzir um fenômeno a categorias prévias, mas simplesmente deixá-lo se mostrar em sua própria nudez? A palavra epoché guarda esse convite radical. Mais do que um termo técnico da filosofia, é um gesto de ruptura, um exercício de atenção que abre espaço para outra forma de consciência. Do ceticismo grego à fenomenologia moderna, passando pela psicologia e até pela psicanálise, a epoché continua sendo um chamado provocativo: como pensar sem as lentes que distorcem o real? Etimologia e origem do conceito A palavra  epoché  vem do grego ἐποχή (epokhḗ). Na língua portuguesa, a forma mais próxima e usada no meio acadêmico é pronunciada assim:  ê-po-quê O  e  inicial é fechado, como em “êxito”. O  po  é curto e claro. O final  ché  vira  quê , com a tônica na última sílaba. Ou seja, a acen...

Trauma Psicanalítico: o que é, como se manifesta e por que importa

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Trauma Psicanalítico: o que é, como se manifesta e por que importa Introdução: o corpo que não esquece Existe um tipo de dor que não se cura simplesmente com o tempo. Um choque que parece gravar sulcos invisíveis na alma, nas memórias, no corpo. Esse é o trauma, na visão psicanalítica: muito mais que um evento, o trauma é uma ferida que insiste, retorna, fala quando não pode calar. Entender o trauma psicanalítico é olhar para o que ficou retido, para o que não pôde ser dito, nomeado ou sentido. É isso que vamos explorar: conceitos, manifestações clínicas, implicações filosóficas e caminhos de cura. O que é trauma para Freud Evento, excitação excessiva, e o inconsciente Para Freud, trauma é um evento real ou simbólico que provoca uma excitação intensa que excede a capacidade de processamento do aparelho psíquico. Há algo que o sujeito não consegue assimilar então esse algo se mantém no inconsciente. Foi assim nos seus primeiros estudos de histeria, nos estudos de neuroses traumáti...

Trauma e Recuperação: Judith Lewis Herman e o mapa da cura interior

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Trauma e Recuperação: Judith Lewis Herman e o mapa da cura interior Introdução Há traumas que desafiam a fala, que fragmentam a alma, que criam abismos entre o antes e o depois. Em Trauma and Recovery , Judith Lewis Herman propõe não apenas um diagnóstico, mas um caminho de reconstrução. Ela oferece uma luz para quem viveu violência, abuso, terror e mostra que recuperar não é esquecer, mas integrar. Se você já se perguntou como alguém pode sobreviver ao horror e ainda assim reconquistar sentido, aqui vamos explorar as ideias centrais desse livro e as reviravoltas que ele provocou na clínica, na cultura, na psique. Quem é Judith Lewis Herman e por que sua voz importa Judith Lewis Herman é psiquiatra americana, professora de Harvard, pesquisadora pioneira no estudo do trauma complexo, abuso infantil, violência doméstica e tortura política. ( Wikipedia ) Em Trauma and Recovery , publicado em 1992, ela articula que os traumas privados (como abuso familiar) e públicos (como guerra e opr...