(TAG) Transtorno de Ansiedade Generalizada: Entendendo o Labirinto da Antecipação
(TAG) Transtorno de Ansiedade Generalizada: Entendendo o Labirinto da Antecipação
Viver com o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é como carregar um rádio ligado em uma frequência de estática constante, onde a notícia principal é sempre uma catástrofe iminente que nunca chega. Para quem observa de fora, parece uma preocupação excessiva; para quem sente, é um estado de alerta biológico e psíquico que consome a energia vital.
O Conceito: Quando a Prudência vira Prisão
Diferente da ansiedade comum, aquela que nos prepara para uma entrevista de emprego ou uma cirurgia, o TAG é uma ansiedade "sem objeto" definido ou, mais precisamente, com excesso de objetos. É uma preocupação persistente e difícil de controlar que se espalha por diversas áreas da vida: saúde, finanças, segurança da família ou desempenho profissional.
Na psicanálise, poderíamos dialogar com a ideia de uma angústia que não encontra contorno, um "quantum" de afeto que circula pelo corpo sem conseguir se ligar a uma representação psíquica estável. É o medo do futuro que anula a presença no agora.
O Que Diz o DSM 5?
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5) é o "norte" clínico para o diagnóstico. Para que se configure o TAG, os critérios principais incluem:
Ansiedade e preocupação excessivas na maioria dos dias por pelo menos 6 meses.
Dificuldade em controlar a preocupação.
A presença de pelo menos três dos seguintes sintomas:
Inquietação ou sensação de "nervos à flor da pele".
Cansar-se facilmente (fatigabilidade).
Dificuldade em concentrar-se ou "branco" na mente.
Irritabilidade.
Tensão muscular (muitas vezes sentida nos ombros e cervical).
Perturbação do sono.
Exemplos Práticos do Cotidiano
O cenário "E se?": Você envia uma mensagem para um amigo. Ele demora 15 minutos para responder. Sua mente projeta: "Ele está bravo comigo?", "Eu disse algo errado?", "Será que aconteceu um acidente?".
A exaustão mental: Terminar o dia fisicamente esgotado, mesmo tendo ficado sentado em um escritório, porque sua mente passou 8 horas combatendo problemas hipotéticos que nem sequer ocorreram.
Principais Estudiosos e a Evolução do Pensamento
Historicamente, devemos muito a Sigmund Freud, que diferenciou a "neurose de angústia" de outras psiconeuroses, percebendo que havia uma ansiedade que se manifestava de forma livre e flutuante.
No campo da Psicologia Cognitivo-Comportamental (TCC), Aaron Beck e Albert Ellis trouxeram a luz sobre as "distorções cognitivas", os erros de lógica que cometemos ao processar a realidade, como o catastrofismo. Mais recentemente, Adrian Wells desenvolveu a teoria da Metacognição, sugerindo que o problema do TAG não é apenas a preocupação, mas o que a pessoa pensa sobre o ato de se preocupar (ex: "se eu parar de me preocupar, algo ruim vai acontecer").
Últimos Estudos e Neurociência
As pesquisas atuais em neurociência apontam para uma hiperatividade da amígdala (o centro de alarme do cérebro) e uma comunicação ineficiente com o córtex pré-frontal (o centro da lógica e regulação).
Estudos recentes publicados na Nature Reviews Neuroscience mostram que o TAG pode estar ligado a uma dificuldade do cérebro em distinguir estímulos neutros de estímulos perigosos. É como se o "filtro" de relevância estivesse quebrado, tornando tudo potencialmente ameaçador.
O Papel dos Medicamentos
A farmacologia evoluiu muito. Os principais medicamentos envolvidos no tratamento são:
Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS): Como a Sertralina, Escitalopram e Fluoxetina. São a primeira linha de tratamento.
Inibidores de Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN): Como a Venlafaxina e Duloxetina.
Benzodiazepínicos: (Ex: Clonazepam, Alprazolam). Usados com cautela e por curto prazo para crises agudas, devido ao risco de dependência.
Pregabalina: Frequentemente utilizada quando há muita tensão física e dor muscular associada.
A Importância de um Bom Psiquiatra e a Terapia
Muitos pacientes sofrem por anos tentando "se acalmar" sozinhos ou recorrendo a soluções paliativas. Buscar um bom psiquiatra e associar com análise ou psicoteria é fundamental para:
Descartar causas físicas (como distúrbios na tireoide).
Ajustar a dose medicamentosa, evitando efeitos colaterais desnecessários.
Trabalhar em conjunto com o processo analítico ou terapêutico.
Como psicanalista, entendo que o medicamento "abaixa o volume" do ruído biológico para que, na análise, possamos finalmente ouvir o que essa ansiedade está tentando dizer sobre a história e os desejos do sujeito.
Conclusão
O TAG não é uma sentença, mas um sinal de que o sistema de defesa psíquico está sobrecarregado. Unir a sofisticação da neurociência com a profundidade da escuta analítica é o caminho mais eficaz para que o paciente deixe de apenas "sobreviver ao futuro" e passe a habitar o seu presente.
Referências Bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5-TR. Porto Alegre: Artmed, 2023.
BECK, Aaron T.; CLARK, David A. Terapia Cognitiva para os Transtornos de Ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2012.
FREUD, Sigmund. Inibição, Sintoma e Angústia (1926). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago.
STAHL, Stephen M. Psicofarmacologia: Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
WELLS, Adrian. Metacognitive Therapy for Anxiety and Depression. New York: Guilford Press, 2009.

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