Transtorno Bipolar

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O que é o Transtorno Bipolar, quais os tipos, qual é o quadro mais grave, como diagnosticar, quais tipos de tratamentos, quais medicamentos, o que a psicanálise pode fazer, e outros profissionais da saúde, quais os riscos desse transtorno, etc

Introdução

O transtorno bipolar é uma das condições psíquicas mais complexas e intrigantes da psiquiatria e da psicanálise contemporânea. Ele se caracteriza por oscilações intensas de humor, que variam entre episódios de euforia (mania ou hipomania) e períodos de tristeza profunda (depressão). Não se trata de uma simples “mudança de humor”, mas de uma experiência que abala a vida, as relações e a própria percepção de si mesmo. O bipolar vive, muitas vezes, como se estivesse num pêndulo entre dois mundos opostos: a exaltação e a queda, a potência e o vazio.

A Criação da Categoria e o DSM-5

A classificação do transtorno bipolar foi sendo construída ao longo do século XX, a partir das descrições de Emil Kraepelin, considerado o pai da psiquiatria moderna, que diferenciou a psicose maníaco-depressiva da esquizofrenia. No DSM-5, publicado em 2013 pela American Psychiatric Association, os transtornos bipolares ganharam uma categoria própria, situando-se entre os transtornos depressivos e os transtornos psicóticos, justamente por sua natureza limítrofe. Psiquiatras, neurologistas e psicanalistas participaram desse processo, reconhecendo a complexidade desse quadro clínico.

Tipos de Transtorno Bipolar

Existem três principais formas:

  • Transtorno Bipolar I: caracterizado por episódios maníacos graves, muitas vezes acompanhados de sintomas psicóticos, intercalados com depressões profundas. É considerado o quadro mais grave.

  • Transtorno Bipolar II: marcado por episódios de hipomania (mais leves que a mania) e depressões severas.

  • Transtorno Ciclotímico: oscilações de humor mais leves e crônicas, que não chegam a configurar episódios maníacos ou depressivos completos, mas que afetam de modo constante a vida do sujeito.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico, feito a partir da observação detalhada da história do paciente e dos relatos de familiares. Não há exame laboratorial capaz de confirmar o transtorno. O olhar atento do psiquiatra é fundamental, mas o diálogo interdisciplinar com psicólogos e psicanalistas enriquece a compreensão do caso.

Tratamentos e Medicamentos

O tratamento geralmente combina estabilizadores de humor (como o lítio e a lamotrigina), antipsicóticos atípicos e antidepressivos em determinados contextos. A medicação busca reduzir a intensidade das oscilações e prevenir recaídas. Mas o tratamento não se limita à farmacologia. A psicoterapia, a psicanálise, o acompanhamento familiar e a construção de uma rotina de sono e autocuidado são pilares que auxiliam na estabilidade.

A Psicanálise e o Transtorno Bipolar

A psicanálise não substitui o tratamento psiquiátrico, mas pode oferecer um espaço fundamental de elaboração. O paciente bipolar não é apenas alguém que oscila biologicamente, mas também alguém que luta com fantasias, desejos e conflitos inconscientes. A análise ajuda a dar sentido à experiência, a compreender como a oscilação toca sua história, suas perdas e sua forma de existir. Para além do diagnóstico, o psicanalista acolhe o sujeito que sofre, permitindo que ele se reconheça para além da etiqueta médica.

O Olhar Neuropsicanalítico

Pesquisas mostram que o transtorno bipolar está ligado a disfunções nos circuitos cerebrais que regulam o humor, em especial no sistema límbico e nos neurotransmissores como a dopamina e a serotonina. A neuropsicanálise busca articular esses dados biológicos à dimensão subjetiva. Mark Solms e Jaak Panksepp, pioneiros nessa área, mostram que os estados afetivos têm raízes neurológicas, mas só se tornam experiência humana quando atravessados pela linguagem e pelo inconsciente. Assim, o bipolar não é apenas um “cérebro desregulado”, mas uma alma em conflito entre excesso e falta.

Riscos e Desafios

O maior risco do transtorno bipolar é o suicídio, sobretudo em episódios depressivos profundos. Além disso, crises maníacas podem levar a comportamentos de risco, dívidas, relacionamentos impulsivos e uso de substâncias. O tratamento adequado, a rede de apoio familiar e o acompanhamento profissional reduzem significativamente esses perigos.

Livros Recomendados

Três obras em português que exploram o tema com profundidade e estão disponíveis na Amazon:

  1. Transtorno Bipolar: Teoria e Clínica – Flávio Kapczinski e colaboradores.

  2. O Cérebro e o Mundo Interno: Introdução à Neuropsicanálise – Mark Solms e Oliver Turnbull.

  3. Psicanálise e Psicopatologia – Manoel Tosta Berlinck.

Conclusão

O transtorno bipolar é uma condição que exige cuidado integral. A psiquiatria oferece diagnóstico e medicação, a psicanálise abre espaço para a escuta do sujeito, a neurociência ilumina os mecanismos cerebrais e a neuropsicanálise integra esses olhares. Mais do que classificar, é preciso humanizar. Porque, no fim, o bipolar não é apenas um portador de um transtorno. É alguém que vive intensamente as alturas e as profundezas da existência, e que pode, com apoio, encontrar formas de viver com dignidade, equilíbrio e sentido.

Referências Bibliográficas

  • American Psychiatric Association. DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.

  • Kapczinski, F. et al. Transtorno Bipolar: Teoria e Clínica. Porto Alegre: Artmed, 2011.

  • Solms, M.; Turnbull, O. O Cérebro e o Mundo Interno: Introdução à Neuropsicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

  • Berlinck, M. T. Psicanálise e Psicopatologia. São Paulo: Escuta, 2018.

  • Panksepp, J. Affective Neuroscience: The Foundations of Human and Animal Emotions. Oxford University Press, 1998.

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