Maturidade: muito além do calendário

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Maturidade: muito além do calendário

Há uma ilusão bastante difundida de que o simples passar dos anos nos transforma em pessoas maduras. Como se o tempo fosse uma escola automática que concede diplomas de sabedoria ao final de cada década. No entanto, o que vejo é que a idade não educa por si só. O tempo apenas acumula, não necessariamente transforma.

Digo com clareza: maturidade não nasce da idade, mas da consciência, da lucidez das escolhas e da coragem de se reinventar. Há pessoas que já caminharam muito e, ainda assim, permanecem na infância espiritual, vivendo de birras, presas ao ego e repetindo velhos erros. Crescer não é um favor do calendário, é uma decisão íntima. E aqui está a provocação: quantos de nós, mesmo com cabelos brancos, seguimos respondendo ao mundo com os gritos de uma criança ferida que insiste em viver dentro de nós?

A infância que carregamos no corpo adulto

Na visão psicanalítica, o adulto não abandona a infância, ele a carrega. Cada emoção desmedida, cada ressentimento prolongado, cada ciúme ou raiva fora de hora denuncia que ainda somos atravessados por velhas dores. A criança que fomos continua pedindo colo, reconhecimento e afeto.

A maturidade só acontece quando paramos de ignorar essa criança e começamos a dialogar com ela. Crescer, então, é um ato de elaboração: revisitar o passado, aceitar a ferida e aprender a cuidar dela sem permitir que dite todos os nossos gestos. O adulto que não olha para si mesmo permanece prisioneiro do que não compreendeu.

O cérebro que aprende a amadurecer

As descobertas da neurociência mostram que maturidade não é apenas metáfora, mas também biologia. O cérebro humano tem plasticidade; ele se reorganiza conforme nossas experiências. Quando escolhemos refletir, meditar, perdoar, responsabilizar-nos, criamos novas conexões que sustentam atitudes mais maduras.

Mas quando repetimos ressentimentos, quando insistimos nas mesmas queixas e no mesmo orgulho, reforçamos os circuitos da imaturidade. Amadurecer é, nesse sentido, também um treino cerebral, uma construção cotidiana de novas formas de pensar e sentir.

O ego que sabota

Na psicanálise, o ego é central, mas sabemos o quanto ele pode se tornar obstáculo. Ele inventa desculpas, justifica erros, se protege de tudo que ameaça sua imagem. O ego adora nos manter em círculos repetitivos, impedindo a verdadeira mudança.

O amadurecimento exige que enfrentemos esse ego, mesmo que doa. Que olhemos para as máscaras que usamos e para as ilusões que sustentamos. A maturidade nasce do confronto com a verdade, por mais desconfortável que seja.

A beleza de amadurecer

Amadurecer é compreender que cada estação da vida tem sua beleza e sua lição. É aceitar a primavera dos começos, o verão das intensidades, o outono das perdas e o inverno das esperas. É deixar cair as folhas secas sem desespero, porque sabemos que o ciclo da vida exige renovação.

Não é o tempo que nos torna maduros, é a maneira como atravessamos as experiências. O amadurecimento é uma obra de arte construída entre dor e aprendizado, entre memória e transformação.

Leituras recomendadas

Para quem deseja aprofundar esse tema, recomendo três obras em português, disponíveis na Amazon:

  1. "A Coragem de Ser Imperfeito" – Brené Brown, Editora Sextante.

  2. "O Ego é Seu Inimigo" – Ryan Holiday, Editora Sextante.

  3. "O Mal-Estar na Civilização" – Sigmund Freud, Companhia das Letras.

Referências bibliográficas

  • Brown, B. (2015). A Coragem de Ser Imperfeito. Rio de Janeiro: Sextante.

  • Holiday, R. (2018). O Ego é Seu Inimigo. Rio de Janeiro: Sextante.

  • Freud, S. (1930/2011). O Mal-Estar na Civilização. São Paulo: Companhia das Letras.

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