Yoga: uma escuta do corpo e da alma
Na perspectiva psicanalítica, o corpo não é apenas um organismo biológico, mas um corpo simbólico, afetado pela linguagem, pelo desejo e pelas marcas do inconsciente. Muitas vezes, carregamos no corpo aquilo que não conseguimos dizer com palavras. Os ásanas (posturas) possibilitam que o corpo fale sem falar, que se expresse, que se liberte, que revele suas tensões, resistências e também sua potência de transformação. Cada postura é como um gesto de presença, de reencontro consigo mesmo.
A prática dos Pránáyámas (exercícios respiratórios) nos ensina a respirar com consciência, a não deixar a vida passar em apneia. Respirar é existir. No nível psíquico, a respiração nos aproxima da pulsação da vida e nos ajuda a modular estados emocionais como a ansiedade e a angústia. É o sopro que cria espaço entre o impulso e a ação.
Já a meditação e o relaxamento conduzem o praticante a um estado de observação sem julgamento. É o momento de escutar a si mesmo, não como quem se cobra, mas como quem se acolhe. Na filosofia, esse gesto de retorno a si, o cuidado de si, sempre foi visto como prática de liberdade. Para a psicanálise, é também a chance de abrir uma fenda no automatismo do eu e deixar surgir algo do desejo mais verdadeiro.
Yoga, nesse sentido, não é alienação, mas um ato ético: é escolher não se perder nas exigências externas, é sustentar um tempo próprio, é cuidar do corpo sem reduzi-lo à performance. É um convite à presença. E, talvez, essa seja hoje uma das formas mais profundas de saúde.
Referências bibliográficas
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Freud, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Imago, 1930
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Lacan, Jacques. O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Zahar, 1979
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Iyengar, B.K.S. Luz sobre o Yoga. Pensamento, 2007
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Desikachar, T.K.V. O Coração do Yoga. Cultrix, 2001
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Foucault, Michel. O Cuidado de Si. Martins Fontes, 2006
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Saraswati, Swami Satyananda. Asana Pranayama Mudra Bandha. Bihar School of Yoga, 2002

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