Swámi Bhaskaránanda, que esteve no Brasil em 1962

Swámi Bhaskaránanda, que esteve no Brasil em 1962
Swámi Bhaskaránanda, que esteve no Brasil em 1962.

Em 1962, o Brasil vivia uma efervescência cultural única, mas sua paisagem espiritual era, em grande parte, tradicional. A chegada discreta de um monge hindu, Swámi Bhaskaránanda, representou mais do que uma visita exótica; foi a chegada de um semeador, portador de uma filosofia milenar. Para compreender a profundidade desse evento, precisamos mergulhar na história do homem, na força de seu nome e na clareza de seu ensinamento.

As Raízes do Semeador: Origem e Caminho

Nascido como Yatin Choudhury em 1930, na região de Lakshmipur, hoje parte de Bangladesh, o futuro Swámi iniciou sua jornada monástica na Ordem Ramakrishna, sendo formalmente iniciado por Swámi Shankaránanda, então presidente da Ordem. Sua vida foi uma longa peregrinação de estudo e ensino que o levou a diversos cantos do mundo, culminando em sua passagem ao grande silêncio em 2017, em Seattle, nos EUA. Sua trajetória foi a de uma ponte, conectando a profundidade dos monastérios indianos com a mente inquiridora do homem moderno.

A Essência de um Nome Iluminado

Na tradição hindu, o nome monástico é um mapa da alma. “Swámi” é um título de respeito que significa “mestre de si mesmo”. “Bhaskara” é um dos nomes sânscritos para o Sol, significando “aquele que ilumina” ou “o fazedor de luz”. E “Ananda” é a palavra para “bem aventurança” ou “êxtase espiritual”. A etimologia de seu nome, portanto, revela sua missão: ser aquele que encontra a bem aventurança em iluminar, em ser um farol da sabedoria para os outros.

A Sabedoria em Palavras: Seus Livros e Estilo

Diferente de mestres que focam em discursos esotéricos, o estilo de Bhaskaránanda era a clareza. Ele se dedicou a traduzir os conceitos mais complexos da filosofia Vedanta de uma forma que a mente ocidental pudesse absorver. Seu objetivo não era confundir, mas clarificar. Seus livros são um testamento desse esforço, com destaque para “Os Fundamentos do Hinduísmo”, uma porta de entrada lúcida para a mais antiga religião do mundo, além de obras como “Meditação, Mente e o Yoga de Patanjali”. Seu estudo era o da síntese, da aplicação prática de verdades universais.

O Legado de 1962

A importância da vinda de Swámi Bhaskaránanda ao Brasil reside em seu pioneirismo. Ele foi uma das primeiras vozes autênticas do Vedanta a falar em nosso idioma, em nosso solo. Ele não trouxe um dogma, mas uma provocação filosófica: a de que a divindade não está apenas no altar, mas no cerne de nossa própria consciência. Sua visita ajudou a abrir uma fissura na percepção, um convite à introspecção que, décadas mais tarde, encontraria eco no crescente interesse pela meditação, yoga e pela busca de um sentido para além das respostas prontas.

Ele nos mostrou que a sabedoria não precisa de estardalhaço para criar raízes. Como seu nome prometia, ele foi um fazedor de luz, e a semente de luz que ele plantou em 1962 continua a germinar silenciosamente naqueles que buscam a verdade dentro de si mesmos.

Ruy de Oliveira ∴

Referências Bibliográficas:

  1. BHASKARANANDA, Swami. The Essentials of Hinduism: A Comprehensive Overview of the World's Oldest Religion. Viveka Press, 2002.

  2. BHASKARANANDA, Swami. Meditation, Mind and Patanjali's Yoga: A Practical Guide to Spiritual Growth. Viveka Press, 2001.

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