O Professor: O Arquiteto de Pontes sobre o Abismo
O Professor: O Arquiteto de Pontes sobre o Abismo
Neste 15 de outubro, o calendário nos convida a celebrar uma figura que, em sua essência, desafia qualquer definição simplista: o professor. A palavra, por si só, mal arranha a superfície de um ofício que se desdobra entre a técnica e a poesia, entre o conhecimento e o silêncio. Longe de ser um mero transmissor de informações, um depósito de respostas prontas, o verdadeiro mestre é um artesão do avesso, um provocador de perguntas, um semeador de abismos férteis na alma de quem o escuta. Ele não nos entrega o mapa do mundo; ele nos ensina a suportar o desamparo de não ter mapa algum e, a partir daí, a desenhar o nosso próprio.
A Transferência: O Mestre como Sujeito Suposto Saber
Antes de qualquer conteúdo programático, o que se instala entre mestre e aprendiz é uma relação profundamente humana, um laço que a psicanálise entende como transferencial. O aluno, em sua busca, investe no professor um saber idealizado. É o que Jacques Lacan brilhantemente nomeou de "Sujeito Suposto Saber". Não importa o quanto de conhecimento real o mestre detenha; o que opera a mágica do aprendizado é essa suposição, essa aposta afetiva que o aluno faz. É o amor, a admiração, a rivalidade ou o desafio que abrem os canais da escuta. O conhecimento não é um objeto que passa de uma mente para outra de forma asséptica. O professor, sabendo ou não, ocupa este lugar sagrado e perigoso, tornando-se, por um tempo, o eixo em torno do qual o universo do saber do outro irá girar.
A Maiêutica Socrática: O Mestre como Parteiro de Almas
Se a transferência é o veículo, a maiêutica é a arte. O mestre, na sua versão mais nobre, ecoa a sabedoria de Sócrates: ele não insere o conhecimento, ele ajuda a pari-lo. Como um parteiro de almas, ele reconhece que o saber já habita, em estado latente, dentro do próprio aprendiz. Seu trabalho é fazer as perguntas certas, criar a tensão necessária, apontar as contradições e, com isso, facilitar o nascimento de uma verdade que não é sua, mas do outro. Este ato é de uma humildade e de uma potência avassaladoras. Ele destrona a si mesmo do pedestal de detentor da verdade para se tornar um catalisador do pensamento alheio. Ensinar, nesta perspectiva filosófica, não é preencher um vazio, mas sim ajudar o outro a descobrir e a nomear os continentes que já existem em seu próprio mundo interior.
O Legado do Vazio: Ensinar é Morrer um Pouco
Eis o paradoxo final e mais belo do ofício de mestre: seu sucesso se mede pela sua capacidade de se tornar desnecessário. O arquiteto constrói a ponte e permite que a atravessem, sabendo que o destino do viajante é a outra margem, longe dele. O mestre ensina, provoca, inspira e, no auge de sua função, opera uma cisão. Ele deve, simbolicamente, "morrer" para que o aluno possa nascer em sua autonomia. O objetivo final não é criar um discípulo que o repita, mas um pensador que o questione e o supere. O legado de um professor não está nas respostas que ele deu, mas no eco de suas perguntas que continuam a ressoar na mente do aluno, impulsionando o a buscar suas próprias verdades. Deixar partir é, talvez, a última e mais profunda lição.
Neste dia, honramos a todos que se dedicam a este ofício de construir pontes sobre o abismo do não saber. Honramos aqueles que, com sua palavra e presença, nos provocaram a pensar, a desejar, e finalmente, a nos tornarmos um pouco mais donos de nosso próprio pensamento.
Feliz Dia dos Professores!

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