TEA, TDAH e Inclusão
TEA, TDAH e Inclusão: Saúde, Família e Sociedade, isso é possível.
O que significam esses diagnósticos?
Vivemos em um tempo em que palavras como TEA (Transtorno do Espectro Autista) e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) se tornaram parte do vocabulário cotidiano. Mas é preciso cuidado: não são rótulos vazios nem meras classificações da moda, e sim diagnósticos que revelam modos singulares de funcionamento da mente. O DSM-5, manual de referência da psiquiatria, classificou esses quadros a partir de uma longa trajetória de estudos clínicos e contribuições de profissionais como Leo Kanner, Hans Asperger, entre outros. O TEA ganhou contornos mais amplos no DSM-5, unificando diagnósticos antes fragmentados; já o TDAH passou a ser melhor descrito em suas diferentes apresentações, seja desatenta, hiperativa ou combinada.
A visão da psicanálise
Na psicanálise, o diagnóstico nunca é um ponto final, mas um ponto de partida. O que importa não é apenas a categoria nosológica, mas a subjetividade que ali se inscreve. Um sujeito com TEA ou TDAH não é uma definição fechada, mas uma história única, que precisa ser escutada em sua dor e também em sua potência. Como lembra Lacan, “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”, e nesse sentido, cada sintoma pode ser lido como mensagem, não como defeito.
O olhar neuropsicanalítico
A neurociência trouxe uma compreensão mais clara sobre os mecanismos cerebrais envolvidos, revelando alterações nos circuitos da atenção, na regulação emocional e na percepção sensorial. A neuropsicanálise, campo de diálogo entre Freud e as descobertas atuais do cérebro, mostra que não basta apenas mapear áreas cerebrais: é preciso integrar as funções neurológicas com a experiência subjetiva e simbólica. Não existe apenas um cérebro, existe uma mente que sente, cria e sofre.
Família e sociedade: onde tudo acontece
Um diagnóstico não pertence só ao sujeito, mas também à família e ao meio social. A forma como uma criança é acolhida, estimulada e cuidada pode transformar completamente sua trajetória. Famílias que entendem e respeitam a singularidade reduzem o sofrimento e ampliam as possibilidades de inclusão. Já a sociedade precisa abandonar a lógica da exclusão e do preconceito, substituindo-a por políticas públicas de acesso, escolas adaptadas, profissionais capacitados e, sobretudo, uma cultura que reconheça o diferente não como ameaça, mas como riqueza.
Inclusão é possível
Muitos ainda perguntam: é possível viver bem com TEA ou TDAH? Minha resposta é direta: sim, desde que haja rede de apoio, acompanhamento clínico adequado e abertura para compreender que a diferença não é falha. A inclusão não é utopia, é prática diária. E não se faz apenas com medicamentos ou terapias, mas com afeto, escuta e compromisso ético.
Provocação final
O maior risco desses diagnósticos não é o transtorno em si, mas o estigma. O que adoece profundamente não é apenas a dificuldade de atenção ou a diferença sensorial, mas o olhar social que insiste em reduzir sujeitos a rótulos. Se a sociedade se dispuser a lapidar seus próprios preconceitos, talvez descubra que a verdadeira inclusão é, antes de tudo, um trabalho de humanidade.
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