Ansiedade deriva do latim anxietas, que remete ao estado de sufocamento, de inquietação interna. Ela é uma resposta natural do organismo diante de uma ameaça, seja real ou imaginária. Trata-se de uma tensão antecipatória que se manifesta tanto no corpo (taquicardia, sudorese, tremores) quanto na mente (ruminações, medo do futuro, sensação de que algo ruim vai acontecer). Na psicanálise, Freud já apontava que a ansiedade está ligada à angústia de separação, à perda de algo vital ou ao conflito entre pulsões. É uma das primeiras manifestações que podem surgir diante de sobrecargas emocionais.
Tristeza, por sua vez, é uma emoção básica, inerente à condição humana. A palavra vem do latim tristitia, que significa “estado de pesar, dor moral”. A tristeza é uma resposta a perdas reais: morte, fracassos, frustrações. Ela é passageira e, apesar de dolorosa, tem um papel importante no processamento emocional. Ao contrário da ansiedade, que projeta o sofrimento no futuro, a tristeza se ancora no passado e no presente, permitindo ao sujeito refletir, elaborar e se reorganizar. É uma emoção saudável quando vivida com naturalidade.
Depressão tem origem no latim deprimere, que significa “pressionar para baixo”. Diferente da tristeza, que é momentânea, a depressão é um transtorno afetivo duradouro e paralisante. Ela inclui perda de interesse pela vida, ausência de prazer, culpa excessiva, fadiga crônica, alterações no sono e no apetite, pensamentos de morte. A Organização Mundial da Saúde reconhece a depressão como a principal causa de incapacidade no mundo. Ao contrário da ansiedade e da tristeza, que são reações esperadas diante da vida, a depressão exige intervenção terapêutica e, muitas vezes, farmacológica. Na visão psicanalítica, a depressão se relaciona à perda do objeto amado e à introjeção agressiva desse objeto perdido, o que leva o sujeito a se punir.
Melancolia, por fim, é um termo antigo que vem do grego melankholía, “bile negra”, conforme os antigos médicos hipocráticos. Ela foi vista por muito tempo como um temperamento. Freud a aborda em 1917, em “Luto e Melancolia”, como uma forma patológica do luto. O sujeito melancólico não consegue se desligar do objeto perdido, e seu eu entra em ruína. Há um rebaixamento profundo da autoestima, sentimento de indignidade, inutilidade e até delírios de ruína. A melancolia é uma forma grave de depressão, marcada por uma tristeza sem objeto, uma dor sem nome. Não se trata de uma emoção, mas de um estado psíquico adoecido.
Quanto à ordem de surgimento, geralmente a ansiedade é o primeiro sinal — uma espécie de alarme interno. Se não acolhida, pode abrir caminho para a tristeza. Esta, quando não elaborada, pode se fixar no psiquismo, evoluindo para um quadro depressivo. A melancolia, mais rara, emerge quando a perda é vivida de forma brutal, silenciosa e sem simbolização possível.
Os fatores que envolvem esses estados são múltiplos: genéticos, bioquímicos, históricos, sociais e simbólicos. Traumas infantis, perdas precoces, abusos, ausência de vínculo afetivo, excesso de cobrança social e padrões de desempenho são catalisadores comuns. A sociedade atual, hiperconectada e imediatista, intensifica a ansiedade e mina o tempo necessário para o luto e a elaboração da dor, favorecendo quadros depressivos e melancólicos.
Exemplo clínico: um sujeito perde o emprego. Num primeiro momento, sente ansiedade inquietação, medo do futuro. Em seguida, aparece a tristeza sentimento de fracasso. Se ele não encontra apoio, e essa emoção se prolonga, pode cair em depressão. Se, por outro lado, essa perda toca num lugar mais profundo de identidade e de amor próprio ele pode mergulhar na melancolia, julgando-se indigno de qualquer recuperação.
Por isso, distinguir essas experiências é essencial. A tristeza precisa ser vivida, a ansiedade precisa ser compreendida, a depressão precisa ser tratada e a melancolia precisa ser acolhida com cuidado clínico.
Etimologia das palavras:
Ansiedade: do latim anxietas, sufocamento
Tristeza: do latim tristitia, pesar
Depressão: do latim deprimere, rebaixar
Melancolia: do grego melas (negro) + kholé (bile)
Referências bibliográficas:
Freud, S. (1917). Luto e Melancolia. Obras completas, vol. 14. Imago.
Organização Mundial da Saúde. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/depression
Dalgalarrondo, P. (2008). Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Artmed.
Birman, J. (1991). Maldade, sofrimento, depressão. Relume Dumará.
Foucault, M. (1961). História da Loucura na Idade Clássica. Perspectiva.
Greenberg, G. (2010). The Book of Woe. Blue Rider Press.
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