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Neurose obsessiva: quando o pensamento se torna prisão

Neurose obsessiva: quando o pensamento se torna prisão Pensar demais pode parecer, à primeira vista, um sinal de inteligência ou de responsabilidade. Mas há casos em que o excesso de pensamento não é sinal de lucidez, e sim de sofrimento. Na clínica psicanalítica, esse modo de funcionar aparece com força na neurose obsessiva , uma das grandes estruturas clínicas descritas por Freud e aprofundadas por Lacan. A neurose obsessiva é marcada por uma intensa atividade mental : o sujeito pensa compulsivamente, rumina ideias, revisita eventos passados, tenta prever o futuro, ensaia falas, arrepende-se de atos e se tortura com dúvidas . Em alguns casos, surgem também rituais e comportamentos repetitivos que servem para aliviar a angústia mas nem sempre de forma eficaz. O obsessivo pensa para não agir. Pensa para não desejar. Seu pensamento é, muitas vezes, uma defesa contra a angústia que o desejo provoca . Freud observou que o obsessivo é tomado por uma culpa inconsciente : teme que seus p...

Procedimentos Orgânicos "Ásanas" - o corpo em postura de escuta

Ásanas: o corpo em postura de escuta As posturas do yoga, conhecidas como ásanas , são mais do que formas físicas ou exercícios de alongamento. Elas são gestos de escuta do corpo, modos de tornar-se presente ao mundo e a si mesmo. A palavra ásana , em sânscrito, significa literalmente “assento”, ou “modo de sentar-se”, e carrega a noção de estabilidade, permanência e atenção. Na tradição do yoga clássico, o ásana é a base silenciosa que prepara o corpo e a mente para o estado meditativo mas hoje sabemos que seus efeitos ultrapassam os limites da prática espiritual, alcançando campos como a neurociência e mesmo a psicanálise. O corpo como via de regulação emocional: a visão da neurociência A neurociência moderna tem demonstrado que o corpo não é apenas um veículo da mente, mas um de seus principais reguladores. Pesquisas em neurofisiologia, especialmente as que envolvem a teoria polivagal de Stephen Porges, apontam que o sistema nervoso autônomo responde diretamente à forma como nos...

Ansiedade, tristeza, depressão e melancolia: as nuances da dor psíquica

Ansiedade, tristeza, depressão e melancolia são experiências humanas distintas, embora comumente confundidas no discurso cotidiano. Cada uma tem uma natureza própria, causas específicas e manifestações singulares no corpo e na mente. Para compreendê-las com profundidade, é necessário olhar para suas raízes etimológicas, seus fundamentos psíquicos e seus efeitos sobre o sujeito. Ansiedade  deriva do latim  anxietas , que remete ao estado de sufocamento, de inquietação interna. Ela é uma resposta natural do organismo diante de uma ameaça, seja real ou imaginária. Trata-se de uma tensão antecipatória que se manifesta tanto no corpo (taquicardia, sudorese, tremores) quanto na mente (ruminações, medo do futuro, sensação de que algo ruim vai acontecer). Na psicanálise, Freud já apontava que a ansiedade está ligada à angústia de separação, à perda de algo vital ou ao conflito entre pulsões. É uma das primeiras manifestações que podem surgir diante de sobrecargas emocionais. Tristeza ...

Culpa e Vergonha - Estudos Sobre o Superego

Culpa  e  vergonha  são feridas silenciosas da alma, moldadas pela mão invisível do  Superego  - essa  instância psíquica  que  vigia ,  censura ,  corrige  e  pune . São afetos primordiais, enraizados no processo de civilização e internalização das normas sociais, cujas raízes se entrelaçam com o desejo de pertencimento e com o medo da exclusão. Na tradição psicanalítica, são dois modos distintos, porém complementares, de o sujeito ser afetado por suas faltas  reais  ou  imaginárias . A etimologia nos ilumina. A palavra “culpa” vem do latim  culpa , que significa “falta”, “erro”, “falha”. Já “vergonha” deriva do latim  verecundia , que está ligada a “temor respeitoso”, pudor ou recato. Ambas emergem da tensão entre o desejo e a interdição, entre o princípio do prazer e o da realidade. Mas enquanto a culpa exige expiação diante de uma autoridade interiorizada, a vergonha prefere o silêncio e o ocultamen...

Empatia

  A empatia é o sopro que conecta corações antes mesmo de as palavras serem proferidas. Ela não se resume a uma técnica de comunicação nem a um simples “colocar-se no lugar do outro”: é, acima de tudo, a capacidade de abrir uma fresta na muralha do próprio ego para acolher, sentir e reverberar a dor, a alegria e a dúvida que habitam no outro. Na tessitura do laço humano, essa ressonância abre espaço para um encontro profundo - um instante em que a alteridade deixa de ser ameaça e passa a ser espelho.   No cerne dessa palavra vibra uma etimologia que nos remete à própria raiz do sentir. “Empatia” deriva do grego empátheia - junção de em, “dentro”, e pathos, “paixão” ou “sofrimento” - e foi traduzida do alemão Einfühlung (“sentir-se dentro”) e do inglês empathy (“capacidade de compreender emocionalmente outro”). Em sua gênese, portanto, repousa a ideia de habitar internamente a experiência alheia, não como invasor, mas como habitante temporário de uma paisagem emocional dis...

Yoga: uma escuta do corpo e da alma

Aula de prática complementar para a Saúde (yoga) ministrada no dia 07 de Novembro de 2023 na  @aspmp  - Associação dos Funcionários Públicos do Município de Pindamonhangaba - SP. Nesse dia contamos com mais de 60 participantes. Yoga: uma escuta do corpo e da alma Em um mundo acelerado, onde o tempo parece sempre faltar e o corpo muitas vezes é tratado como máquina, a prática de yoga se apresenta como um espaço de escuta, reencontro e cuidado. Mais do que uma atividade física, o yoga é um caminho que integra corpo, mente e espírito. Sua importância como prática complementar para a saúde está no modo como convida o sujeito a pausar, habitar o próprio corpo e se reconectar com o que há de mais essencial: o silêncio interior. Na perspectiva psicanalítica, o corpo não é apenas um organismo biológico, mas um corpo s imbólico, afetado pela linguagem, pelo desejo e pelas marcas do inconsciente. Muitas vezes, carregamos no corpo aquilo que não conseguimos dizer com palavras. Os ásana...

Neurose, Psicose e Perversão

Neurose, Psicose e Perversão: três respostas do sujeito à castração No breve e denso texto “Neurose e Psicose” (1924), Sigmund Freud nos oferece uma contribuição essencial para compreender as estruturas clínicas fundamentais da psicanálise. Mesmo que a perversão não seja o foco central do ensaio, ela se articula à reflexão de maneira implícita, pois, para Freud, as neuroses, as psicoses e as perversões não são doenças isoladas, mas modos distintos de resposta do sujeito diante da realidade, do desejo e da perda estrutural que marca a condição humana . Freud parte de um ponto essencial: toda experiência subjetiva se organiza a partir do conflito entre o Eu (ego), o mundo externo e as exigências pulsionais do inconsciente. A subjetividade não é um dado pronto. Ela se constitui por meio de defesas, recalques, construções simbólicas e tentativas de dar sentido àquilo que escapa à razão. Nesse cenário, a realidade externa impõe limites, e o sujeito precisa lidar com a frustração, com a ...